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  • Foto do escritorPsicólogo Renato Orlandi

É tudo culpa da loucura?

Hoje o tema é delicado, mas necessário de ser dito, porque vejo com recorrência esta atmosfera, quase um tabu, a respeito da ideia de que uma condição mental, seja transtorno, distúrbio ou doença, dá o direito para a pessoa dizer ou agir como bem entender sem sofrer as devidas consequências. Tenho visto com frequência frases como, “ah, esta blogueira escravizou sua funcionária, fazia bullying e disse que ser modelo é mais difícil do que trabalhar na lavoura, mas é porque ela tem depressão, tadinha”, ou “ah, eu vou te matar, eu tenho diagnóstico psiquiátrico então não serei presa”, ou ainda, “ah, mas ela tem borderline, então ela é tóxica e abusiva mesmo”. Não é bem assim que as coisas funcionam. 

Primeiro precisamos pontuar que nem todos os distúrbios, transtornos ou doenças fazem com que a pessoa perca o “juízo”, a consciência dos seus atos. Na verdade, são bem poucas as alterações que fazem isto, para se ter uma ideia, apenas 1% da população brasileira é esquizofrênica, se pegar a parte em que está em estágio avançado e com sintomas de agressividade e descontrole, sem atenção de saúde, tratamento ou acompanhamento sobram quantas? Bem poucas. Além do mais os casos de alterações sem controle estão envolvidos mais com condições neurológicas ou momentos de crises, que por serem momentos têm início, meio e fim pontuais, não fica o tempo todo. 

Segundo que, mesmo as ações inconscientes, são da nossa responsabilidade, e as suas consequências também, seja qual for a origem das alterações da consciência, ou então quem estivesse embriagado ou drogado não responderia pelos seus atos, o que é mentira, existem leis específicas para estes casos, assim como não é tão fácil assim se livrar de alguma punição por ter um diagnóstico psiquiátrico como as pessoas imaginam, ainda mais hoje em dia que a saúde mental está toda voltada para a reabilitação e inclusão social das pessoas com transtornos, ou seja, todos os programas e esforços estão voltados para ajudar a pessoa a conviver bem em sociedade e com o outro, então é bem difícil que falte orientação e acompanhamento nas relações, está bem claro o que é a doença agindo ou não e o que fazer.

E por fim, é claro e mais comum que tudo isto, é uma fuga da responsabilidade moral e do enfrentamento atribuir tudo de ruim que acontece ao pobre e coitado do transtorno ao qual a pessoa tanto se agarra, é mais fácil dizer que é tudo culpa do TDAH, da depressão ou da ansiedade, pela ideia de subjetividade característica destes diagnósticos, do que assumir os próprios atos, pensamentos negativos e destrutivos e ser proativo no seu tratamento e melhora. Eu não quero ter o trabalho de olhar para isto então deixa eu falar aqui é que por causa da depressão. Então vamos pensar duas vezes antes de dizer que fulano é assim mesmo por causa da sua doença, isto contribui para os estigmas destas pessoas, quase sempre é só falha de caráter mesmo.

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