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  • Foto do escritorPsicólogo Renato Orlandi

Você não é melhor porque evita conflitos

O que será que significa fazer o bem para alguém? Nos últimos tempos tenho me deparado com uma situação que se tornou comum na clínica, pessoas renunciando a si mesmas, das suas emoções em prol do bem maior e da boa convivência. “Ah, não, eu não posso falar isto porque ele não aguenta”; “ah, não, eu não posso dizer como eu me sinto porque vai ficar um climão”; “ah, não, eu não posso impor limites porque ele não vai entender”. Acredita-se que esta estratégia, de silenciamento e esquiva do conflito, seja pelo alto grau de sublimação, humanização ou superioridade das mazelas terrenas, a pura bondade e caridade, “eu aguento”, “eu suporto tudo por nós dois, enquanto você for infantil e frágil”. Mas será que isto é verdade? Distorcemos os conceitos de humanização, de bondade e caridade, até aquela máxima cristã de dar o outro lado do rosto para receber o tapa não é tão bem compreendida. 


É claro que jogar todas as emoções de lado em prol da pacificação plástica e artificial é o caminho mais fácil a curto prazo e ainda se ganha a posição de herói pelo suposto sacrifício, a iluminação falsa de luz de poste e nada mais. Não, a hipótese mais aceita para quem foge das situações de conflito é a de que a pessoa não suporta que alguém esteja insatisfeita com ela, de mal dela, brigada, imagina só que peso ter alguém que eu não agradei! Então é melhor botar uma pedra nos próprios sentimentos e tentar atender ao bem-estar do outro do que falar, impor limites, dizer “não”. 


Reprimir a si e fugir do diálogo não é sinônimo de bondade, sacrifício ou humanização, é apenas fuga e o preço por isto será cobrado, pois tudo aquilo que não dizemos volta na forma de sintoma, seja físico ou emocional. Então será que vale a pena aumentar essa panelinha de pressão na sua cabeça apenas para que o outro não se sinta desconfortável? Não controlamos a reação dos outros, cada um reage com aquilo que tem por dentro e não podemos ter a arrogância de achar que sabemos o que é melhor para o outro, de repente você dizer tudo o que está segurando aí dentro seja a melhor coisa para o desenvolvimento da relação e da pessoa do que guardar para si e achar que está se tornando santo.

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