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  • Foto do escritorPsicólogo Renato Orlandi

Se amar não é se mimar

O amor por si mesmo é urgente para ajudar a preservar nossa saúde mental, é o ato primordial para qualquer tipo de conexão positiva com o mundo e a essência da vida e para dar significado as relações que vivemos, até aí tudo bem, todos já sabemos disto. O desafio é de como encontrar este amor e preservá-lo, nestes tempos de enlatados, de padrões físicos e psicológicos, sim, os extrovertidos ganham a vez na sociedade da exposição e compulsividade, os magros, sem pelos no corpo e muito cabelo na cabeça, os geometricamente proporcionais de rostos quadrados, abdomens planos e glúteos redondos, e assim por diante.

Sabemos quão árduo pode ser o caminho para se alcançar uma autocrítica positiva, para nos livrarmos das comparações sociais que são históricas e culturalmente definidas e para desenvolvermos a autoconfiança necessária ao ponto de assumirmos o poder de decidir quais serão os nossos padrões de julgamento daquilo que deve e que pode ser amado pelas suas diferenças e semelhanças do mundo. Aceitar intencionalmente quem se é exige o exercício do acolhimento e da empatia consigo mesmo e também de uma visão honesta sobre seus limites e seus esforços, além de um desprendimento da comunidade, daquela necessidade infantil de pertencimento para caminhar rumo a autenticidade. Afinal, nunca nos encaixaremos completamente em alguma expectativa do mundo, por mais que a ciência avance, a natureza sempre supera, então por que fazer destas expectativas as minhas também?

Estimar a si mesmo não é uma atitude de passividade, mas de se comprometer na ampliação dos seus horizontes, em investir no seu aperfeiçoamento e assim criar possibilidades de sucesso e de crescimento em todos os campos da vida, alinhados a quem se é, as preferências de gosto, a natureza pessoal, aquelas coisas que se faz bem e se tem predisposição. O problema é que nos acostumamos a entender mal este conceito e confundir amor com satisfação imediata, prazer, ou padronização e vemos atitudes que variam desde o egoísmo até a autoafirmação intolerante, passando pela automutilação tanto da personalidade quanto do corpo.

Amar a si mesmo também nos implica a tomar decisões difíceis e incômodas, o melhor exemplo que posso citar é sobre o corpo. É importante reconhecer e aceitar nossos corpos, suas diferenças e sua beleza, é imprescindível saber que os padrões dos corpos das redes sociais são fantasiosos e não contém o segredo da felicidade. Entretanto é importante saber que deve se cuidar do corpo, aceitação não é cegueira. Isto quer dizer que amar a si mesmo não é só ficar deitada no sol descansando e tomando um bronze, mas tomar vacina, por exemplo, ou tratar a unha encravada e examinar aquela verruga, atividades não muito agradáveis, mas necessárias.

Isto serve para o mundo subjetivo também, quando projetamos nossa personalidade no mundo astrológico, na nossa criação ou nos nossos traumas e “tudo bem”, “eu amo meus defeitinhos”, isto não é autoestima. O trabalho árduo e constante para reconhecer e lidar com as suas feridas sim, é amor-próprio. Neste caso, se amar não é dizer que “eu sou assim mesmo e me amo”, não, amor-próprio é sentar a bunda no divã e tentar se compreender para ser uma pessoa melhor, olhar para dentro, chorar, se espiritualizar à sua maneira, enfim, também atividades pouco “instagramáveis”, mas que concentram a essência do cuidar de si mesmo.

O amor-próprio, o autoconceito, a avaliação positiva de si mesmo são atitudes e não discursos, dá trabalho, e não significa se mimar, fazer comprinhas caras e tirar um dia de spa, significa lutar para encontrar um trabalho melhor, se profissionalizar, estudar mais, lutar pelos seus direitos, discutir a relação para se impor, ter conversas chatas com os amigos e fazer terapia, seguir o cardápio e levantar peso até fazer calos nas mãos, na academia. Vai além do que uma publicação nas redes sociais com comidinhas gostosas ou viagens lindas, cirurgias estéticas e frases de efeito. Então, será que você se ama de verdade?

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