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  • Foto do escritorPsicólogo Renato Orlandi

O que fazer com o medo?

Frio na barriga, respiração ofegante, coração acelerado, transpiração, boca seca, visão embaçada e tremedeira, o que é isto? Um orgasmo? Um derrame? Não. É melhor. É o medo! Você já sentiu isto, eu tenho certeza, e também já ouviu a frase “se está com medo, vá com medo mesmo”. Mentira, não vá com medo mesmo, espera um pouco, antes de qualquer coisa, compreenda o seu medo. Medo é nome que damos a um conjunto de respostas do nosso corpo e da nossa mente quando somos expostos a situações de perigo, estimulações aversivas reais, potenciais ou percebidas desta forma, e tem a função de nos preparar para a luta ou fuga. É considerada uma emoção primária, ou seja, já nascemos com ela, faz parte da evolução da espécie e acontece da mesma forma em todos nós independentemente da cultura, junto com a raiva, alegria, surpresa, nojo e tristeza.

Alguns medos são inatos, no sentido filogenético, isto quer dizer que fazem parte da nossa genética e são explicados pela teoria da evolução da nossa espécie, como, por exemplo, o medo do escuro ou de barulhos intensos e repentinos. Fica fácil imaginar o motivo né, imagina só o seu ancestral hominídeo que chegava perto de uma caverna escura e não sabia que bicho estava escondido lá dentro, quantos já morreram nesta armadilha ou quantas coisas ruins aconteceram após um som estridente como de um trovão ou de uma árvore caído? Ou então quantos sobreviveram após uma queda de grande altura? Então, aqueles de nós, dentro da espécie, que tinham medo de altura, dos sons forte ou do escuro se protegiam e eram selecionados pela evolução em detrimento daqueles que não sentiam medo e acabavam morrendo.

Outros medos são aprendidos pela experiência pessoal ou coletiva, seja da comunidade ou da família e podem ser passados para os mais próximos como uma forma de proteção de manada, imagina que uma pessoa tem medo de ser assaltada numa rua escura e andando pela rua avista uma motocicleta se aproximando e sai correndo, é provável que se tiver outras pessoas próximas elas também irão se proteger, mesmo sem saber do motivo. Estes medos são dos mais variados e dependem da experiência de vida de cada um, dos filmes que assiste, das notícias de jornal, da observação de pessoas próximas em sofrimento, dependem da cultura e são muito particulares. Nesta categoria também entrar o medo da morte ou de alguma doença, o que é bem interessante porque os pesquisadores nos dizem que o medo da morte existe apenas para o ser humano, que por sua consciência existencial sabe que um dia terá fim, os outros animais não sabem disto então não têm este medo. 

Por ser considerada uma emoção negativa, o medo pode assumir alguns disfarces como timidez, escrupulosidade, pessimismo e ceticismo. A timidez pode ser medo do fracasso, de exposição e julgamento, então antes mesmo de ser criticado ou julgado eu mesmo me inferiorizo e assim consigo controlar o que seria uma reação negativa das pessoas; o escrupuloso tem medo de não ser aceito e por isto esconde sua verdade, é aquele que concorda com tudo que os outros falam, ou da maioria ou muda de opinião com muita frequência; o pessimista tem medo de algo não dar certo e por isto já pensa em todas as formas que poderia dar errado para se preparar e tentar controlar as possíveis catástrofes, já que o imprevisível é assustador; e o cético tem medo da incerteza, por isto diz não se deixar enganar por nada, já pressupõe que tudo é mentira ou inexistente para tentar controlar sua frustração. Além disto, pode se tornar patológico, como no pânico e nas ansiedades em geral.

Percebeu qual é o grande mecanismo por trás de todos estes medos que foram categorizados pelos pesquisadores? A falta de controle, o maior medo que nós podemos ter é o de não saber o que vai acontecer, por isto o grande mal do século é a ansiedade, vivemos para prever o futuro e tentar controla-lo porque é insuportável ficar à mercê do caos, das possibilidades da vida, do jogar de dados do destino. Tentamos os métodos mais destrutivos de tentar controlar o destino para não ter medo, seja com uma visão de futuro pessimista ou nos diminuindo para tentar aplacar a dor de que isto aconteça de verdade. Onde ficou a nossa coragem de deixar as coisas acontecerem? E não falo de coragem como ausência de medo, mas como uma forma de abrir mão do controle porque confia na vida. Será que somos inimigos da vida e ela nos quer mal?

Na perspectiva junguiana, para contextualizar, compreendemos a vida como movimento, renascimento e evolução constantes e o oposto disto é o medo, porque ele paralisa. Além disto, o medo faz crescer o desejo de poder, cria-se um simulacro que o esconde para surgir o controle, mas assim se nega a vida. Então, dica do psicólogo, percebeu que está com medo, ótimo, agora faça o seguinte, verifique se você não está à beira do precipício, dê ouvidos as suas emoções e as intuições, pronto, agora decida o que fazer. Quase sempre dá para ir com medo mesmo.

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