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  • Foto do escritorPsicólogo Renato Orlandi

O insuportável silêncio

Parece cada dia mais difícil ter um momento de silêncio e solidão, é comum deixarmos uma música ambiente ou a TV ligada, mesmo que não estejamos prestando atenção no seu conteúdo, as pessoas ficam com fones de ouvido o tempo todo para preencher o espaço vazio, para ter um pano de fundo das atividades e colocam podcasts para tocar um atrás do outro, sem prestar atenção e tornando-se apenas receptáculos de informações e ruídos.  

Será que o silêncio é tão insuportável assim? Quais serão as vozes que aparecerão se ficarmos em silêncio? Aquelas lá do fundo do nosso ser, que estão tentando entrar em contato conosco, mas ocupamos o tempo todo com sons mais altos para evitá-las. Ou será que é a solidão que não suportamos? E, por isto, precisamos de uma voz humana ecoando pela casa vazia ou pela mente vazia.

Outra forma que se manifesta a nossa dificuldade de lidar com o silêncio é pela insônia, não conseguimos relaxar e nos entregar ao vazio de “desligar” a mente, ou abrir mão do controle da consciência, porque nesta escuridão podem ter monstros terríveis: as emoções que eu não quero olhar e as lembranças que eu não quero reviver. A ansiedade é outra forma de compensação do medo do silêncio, estamos sempre no futuro imaginando mil coisas que podem acontecer para distrair a mente com preocupações e evitar olhar para o presente. Quanto tempo faz que você não olha para o céu e observa as nuvens passando? Ou as estrelas “piscando”, suas cores ou o movimento da lua pela noite de uma ponta a outra do firmamento? 

A proposta do mindfulness é justamente esta, como o próprio nome já diz, esvaziar a mente e focar no agora, limpar os pensamentos e diminuir os estímulos para conseguir encontrar a voz perdida da alma, que está lá nas profundezas com a mensagem mais relevante sobre a vida, além do ego, que precisamos ouvir. As técnicas de meditação, relaxamento e respiração servem para isto.

Nossos pensamentos e emoções precisam ser ouvidos, acolhidos e suportados, precisam ser vividos e expressos. Quanto mais eles são ignorados mais eles gritam dentro da gente e encontram formas dolorosas de se fazerem presentes, pelas dores físicas e emocionais. O que temos o costume de fazer é fugir de nós mesmos aumentando os ruídos externos, as músicas, a TV, as conversas frívolas, as horas e horas nas redes sociais nos entupindo de imagens e até mesmo com o trabalho e o intelectualismo sem sentido.

Reflita se você está proporcionando a si mesmo um momento de silêncio para ouvir seu interior ou se está criando subterfúgios de fuga e defesa de se ouvir com suas atividades tão importantes do cotidiano, os fones de ouvido o tempo todo e as relações que servem apenas para evitar ficar sozinho.

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