top of page
  • Foto do escritorPsicólogo Renato Orlandi

Não deixe fluir

Isso mesmo, mas calma, antes de me cancelar deixe-me explicar. Este discurso de “deixar fluir” que ouvimos por aí tem um motivo para existir, tem a função de fazer a gente olhar para o nosso desejo de controle sobre o mundo, as pessoas e as situações e não nos deixar dominar por isto, neste ponto eu concordo totalmente, ufa, já está mais tranquilo? O grande problema é que este discurso não termina aqui, a frase curtíssima e derradeira não é tão autoexplicativa quanto parece e podemos cair num erro fundamental e grave, o de nos tornar passivos diante da vida. 

É sobre isto que eu estou falando quando reforço que não, não deixe fluir, sabe por quê? Porque nem todas as correntezas deste mar que é a vida nos levam para bons lugares, ah que bom seria se a natureza fosse a individuação e a única força que nos move fosse aquela que nos leva para frente e para cima. Não é assim, Jung nos fala, em “A energia psíquica”, sobre as direções que a energia pode fluir: para cima (projeção), para baixo (introjeção), para frente (progressão), para trás (regressão), para dentro (introversão) e para fora (extroversão).

Um ponto de destaque é o fato de a individuação ser considerada pelo Jung como uma atitude antinatural, ou seja, se largar a pessoa lá solta na natureza e ela não fizer nada, então nada acontecerá, ela não “individua” sozinha como as plantas fazem fotossíntese só de “olhar” para o sol, não, a única manifestação que existirá será a da natureza, ou seja, a do instinto que é animal, precisamos, por força de vontade e muito trabalho, choro e reza, que fazem parte do cérebro pré-frontal, neocortical, transgredir os limites do instinto, que é massa disforme, e caminhar para a expressão da unidade e para a individuação, que é o todo diferenciado.

Nossa, não entendi nada, o que isto tudo quer dizer? Quer dizer que se a queridona não fizer nada da sua vida, nada vai acontecer, ou pior, nada vai acontecer de bom, porque as correntezas que levam nosso barquinho não são apenas o Self (apesar de ser), mas podem ser também os complexos, por exemplo, e ser guiado por um completo constelado é como pensar que está no mar, mas na verdade estar numa grande piscina em que tiraram o ralo, o redemoinho irá levar, mais cedo ou mais tarde, para o esgoto.

Então não deixe fluir, tenha atitude frente a vida, ouça sua intuição e saiba seu lugar que é o de não controlar, mas o de ser ativo e vigilante. Ficar parado esperando tudo cair do céu não é bom negócio para a saúde mental e nem para a alma.

Comentarios

Obtuvo 0 de 5 estrellas.
Aún no hay calificaciones

Agrega una calificación
bottom of page