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  • Foto do escritorPsicólogo Renato Orlandi

Eu devo sair da zona de conforto?

Temos uma ideia bem distorcida desta tão famosa zona de conforto, associamos este lugar a um lugar ruim e pronto, mesmo usando o nome “conforto”, parece algo negativo, algo de gente preguiçosa ou sem vontade, mas vamos pensar bem neste nome, conforto, parece uma coisa boa, é um lugar que conquistamos as duras penas e que não aparece tão fácil na vida da maioria das pessoas. Se está confortável, se está tudo bem, por que sair? O problema é que damos o nome de zona de conforto a um lugar que está mais para ‘zona’ do que para ‘conforto’, nem sempre o lugar que chamamos desta forma realmente é um lugar confortável. E mais, quando for, podemos aproveitar para dar um respiro, um descanso, olhar para outros lados da vida, antes de tentar se arriscar no desconforto e na promessa de conquistar mais e mais, é preciso saber o momento para ficar e para sair. 


A zona de conforto é um termo coloquial para designar um estado psicológico em que uma pessoa se sente segura, confortável e familiar com suas circunstâncias atuais, a partir desta definição já podemos repensar se o que chamamos de zona de conforto é realmente isto, vejo muitas pessoas em sofrimento que acreditam estar neste lugar, sabendo do sofrimento e ainda assim dizem que estão na zona de conforto, difícil entender. Permanecer nessa zona significa evitar desafios e riscos desconhecidos, proporcionando uma sensação de estabilidade e tranquilidade, é importante pensar se estamos no momento de parar um pouco para reestabelecer as forças ou se já estamos prontos para outras aventuras. Geralmente quando alguém acredita que existe mesmo essa tal zona de conforto também acredita que existem as zonas de desconforto, assim se separa a vida em parte boa e parte ruim, ou estamos cá, ou lá, e só é bom estar num lugar de desconforto, quem é adepto a esta ideia acredita que só pode haver crescimento e desenvolvimento no fogo, na dor e no desconforto.


Mas será que isto é mesmo verdade? Será que a gente só cresce com o garfo do diabinho espetando as nossas costas? Só vamos para frente com chute nas costas? Debaixo de choro e sofrimento? Um estudo realizado pelo psicólogo e pesquisador Robert M. Yerkes e o fisiologista John Dillingham Dodson em 1908, conhecido como “Lei de Yerkes-Dodson”, mostrou que o desempenho humano está diretamente relacionado ao grau de estimulação ou desafio que se enfrenta. Em níveis muito baixos de estimulação, como quando estamos muito confortáveis, nosso desempenho tende a ser baixo, por outro lado, em níveis muito altos de estimulação, quando nos sentimos sobrecarregados ou ansiosos, nosso desempenho também é prejudicado. A ideia central dessa pesquisa é que um nível moderado de estímulo ou desafio é o ideal para alcançar o melhor desempenho e crescimento, mas não é o que acontece na prática e o preço que se paga por esta “estimulação” pode ser alto demais (ansiedade e sobrecarga).


Por conta de estudos como este, no mundo do trabalho, começou-se a associar pessoas que se acomodam em suas zonas de conforto como resistentes a assumir novas responsabilidades, riscos ou que estão estagnadas em suas carreiras, perdendo a chance de desenvolver novas habilidades e progredir profissionalmente, ou seja, aumentar os lucros. O que não percebem é que, por sermos seres biopsicossociais, estas mesmas pessoas podem promover mudanças em suas vidas fora do trabalho ou então pode ser que justamente este perfil mais ‘conservador’ seja essencial para a manutenção dos valores da empresa, como uma âncora, e um lugar de não angústia é extremamente útil para se correr outros tipos de riscos, aqueles que, no desconforto, na sobrevivência, não se corre. 


A procrastinação, o medo do desconhecido e a resistência à mudança são barreiras comuns que nos mantêm presos na zona de conforto. A procrastinação é uma forma de evitar temporariamente o desconforto emocional associado a tarefas difíceis, mas acaba prejudicando nosso desempenho e autoestima. O medo do desconhecido nos faz evitar experiências novas e oportunidades de crescimento, o que pode levar à estagnação pessoal e profissional. A resistência à mudança é uma resposta natural, mas pode nos impedir de explorar novos horizontes e alcançar nosso verdadeiro potencial. Até que ponto vale a pena promover a própria desestabilização e insegurança emocional? Será que estamos sempre prontos para isto? Não dá para viver a vida com equilíbrio e, por que não, conforto? 


A zona de conforto não é apenas um fenômeno psicológico, mas também uma questão de neurociência. Estudos mostram que o cérebro humano é altamente adaptável e pode criar novas conexões neurais quando confrontado com novos desafios. A exposição a situações desconhecidas e estimulantes ajuda a fortalecer nossa capacidade de aprendizado e memória, chamamos isto de plasticidade neural.


Ao enfrentar nossos medos e resistências, adquirimos confiança em nossas capacidades e nos tornamos mais resilientes diante dos desafios futuros. Sair da zona de conforto não significa realizar mudanças radicais de uma só vez, mas sim dar pequenos passos fora desse espaço conhecido e saber quando é importante fazer isto. A jornada de sair da zona de conforto é uma oportunidade para expandir nossos horizontes, estimular nossa criatividade e nos desenvolver em diversas áreas da vida. Podemos dar este passo quando estamos de fato confortáveis, seguros e descansados, isto quer dizer que é importante passar um tempo na zona de conforto também.

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