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  • Foto do escritorPsicólogo Renato Orlandi

Eco-ansiedade

A eco-ansiedade é um termo recente que vem ganhando destaque na sociedade atual. Refere-se ao medo crônico e persistente de um cataclismo ambiental causado pelas mudanças climáticas e ao impacto aparentemente irreversível que elas têm sobre o planeta. Esse fenômeno é descrito pela American Psychology Association (APA) como uma preocupação constante associada ao futuro pessoal e das gerações futuras diante dos efeitos das alterações climáticas.


As mudanças climáticas têm desencadeado uma série de problemas ambientais em escala global. Estamos testemunhando a proliferação de fenômenos meteorológicos extremos, como ondas de calor intensas, incêndios florestais devastadores, ciclones e tufões destrutivos, terremotos e maremotos, entre outros eventos naturais cada vez mais frequentes e intensos. Além disso, a poluição do ar e sua influência na saúde humana se tornaram uma preocupação crescente, a acumulação de resíduos plásticos nos oceanos ameaça a vida marinha e a biodiversidade e a exploração desenfreada de recursos naturais esgotam os ecossistemas. Esses problemas ambientais, somados ao estresse hídrico e à escassez de água em muitas regiões do mundo, criam um cenário preocupante e incerto para o futuro do planeta e de suas espécies, o aumento do nível do mar é uma realidade alarmante, ameaçando comunidades costeiras e ecossistemas sensíveis.


O termo ganhou reconhecimento oficial em outubro de 2021, quando foi incluída no dicionário de Oxford como o “desconforto ou preocupação sobre o dano atual e futuro causado no meio ambiente pela atividade humana e mudanças climáticas”. Desde então, o termo tem sido cada vez mais mencionado, especialmente entre os jovens, que expressam uma visão assustadora do futuro em várias pesquisas realizadas em diferentes países. A ansiedade é uma resposta natural do corpo a situações percebidas como ameaçadoras, é uma emoção que todos experimentamos em algum momento de nossas vidas, no entanto, quando ela se torna crônica e desproporcional em relação à situação real, pode afetar negativamente a saúde mental e o bem-estar geral de uma pessoa. A eco-ansiedade é um tipo específico de ansiedade que está diretamente ligada à preocupação com o meio ambiente e o futuro do planeta.


Embora não existam dados precisos sobre o número de pessoas afetadas pela eco-ansiedade, os especialistas concordam que, à medida que os problemas climáticos se agravam, o número de pessoas sofrendo com esse sentimento também aumentará. Um relatório pioneiro da APA, intitulado “Mental health and our changing climate: impacts, implications and guidance” (2017), já alertava para o aumento da preocupação das pessoas em relação às mudanças climáticas. Acabei de ver no jornal uma pesquisa americana que revelou que após aquele episódio da fumaça que encobriu Nova Iorque, o tema climático ocupou grande porcentagem, quase a totalidade, dos temas abordados em sessões de terapia na cidade.


A eco-ansiedade não afeta a todos da mesma maneira. Geralmente, é mais comum em indivíduos com maior consciência ecológica, que estão mais envolvidos e informados sobre os problemas ambientais. Os sintomas da eco-ansiedade podem variar desde ansiedade leve, estresse e distúrbios do sono até casos mais graves de sensação de asfixia e pode levar a estados depressivos. Aqueles que têm filhos muitas vezes sentem uma culpa profunda e uma preocupação intensificada ao considerar o futuro dessas gerações. É importante destacar que a eco-ansiedade está relacionada a outro conceito, conhecido como solastalgia, cunhado pelo filósofo australiano Glenn Albrecht, o termo descreve os distúrbios psicológicos que afetam as populações nativas após mudanças destrutivas em seu ambiente, seja devido a atividades humanas ou às alterações climáticas, não é considerada uma doença, mas enfatiza o impacto das mudanças climáticas no bem-estar humano. Estudos revelam que as pessoas que vivenciaram desastres naturais têm uma probabilidade 4% maior de desenvolver problemas mentais, como transtorno de estresse pós-traumático ou depressão, conforme mostrado em pesquisas com sobreviventes do furacão Katrina, realizado pelo Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT) em 2005. 


A pandemia de COVID-19 evidenciou ainda mais os limites do planeta e a vulnerabilidade da humanidade diante de catástrofes ambientais, a crise sanitária global nos levou a refletir sobre a importância de um equilíbrio sustentável com o meio ambiente e a necessidade de ações concretas para enfrentar os desafios ambientais. Durante a pandemia, muitas pessoas testemunharam a relação direta entre a saúde humana e a saúde do ecossistema global. O surto do vírus foi amplamente atribuído à destruição de habitats naturais, à perda de biodiversidade e ao comércio ilegal de animais selvagens. Essa conexão direta entre a saúde humana e a saúde do planeta despertou um senso de urgência e preocupação em relação às mudanças climáticas e à sustentabilidade ambiental. Além disso, o isolamento social e as restrições impostas pela pandemia aumentaram os sentimentos de incerteza e vulnerabilidade. As pessoas foram confrontadas com sua própria fragilidade perante um evento global imprevisível. Essa sensação de impotência e a percepção de que o mundo está em um estado de crise contínuo podem intensificar a eco-ansiedade.


Este tipo de ansiedade específico está intrinsecamente ligado à noção de responsabilidade individual e coletiva. Muitas pessoas sentem uma pressão crescente para tomar medidas pessoais e contribuir para a sustentabilidade ambiental. Essa pressão adicional pode levar a um sentimento de culpa e ansiedade sobre se estão fazendo o suficiente ou se suas ações realmente fazem diferença. A constante exposição a informações sobre desastres naturais, crises climáticas e declínio ambiental também contribui para a sensação de desesperança e preocupação em relação ao futuro. À medida que nos deparamos com os desafios da eco-ansiedade, devemos lembrar que estamos todos juntos nessa jornada. A conscientização, o apoio mútuo e a ação coletiva são elementos-chave para enfrentar a crise climática e criar um futuro mais sustentável para nós mesmos e para as gerações futuras. Unindo esforços, indivíduos, governos e organizações podemos trabalhar em conjunto para enfrentar os desafios ambientais, promovendo a conscientização, a adoção de práticas sustentáveis e a busca por soluções inovadoras.

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