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  • Foto do escritorPsicólogo Renato Orlandi

DES ativação de Arquétipos

Muito se fala atualmente, e sempre tem um ignorante para distorcer alguma compreensão da psicologia, sobre a ativação de arquétipos, algo que soa como a lei da atração misturada com o terror da redução mentalista do início do desenvolvimento da consciência na humanidade e das primeiras teorias psicológicas já descartadas há mais de 3 séculos. Assim como a ideia de que somos seres programáveis, eu pergunto, onde fica o botão para fazer a ativação? Pensa no que vai dizer!


Não, não somos robôs, não tem como ativar nada usando o poder da mente ou da atração colocando mil fotos de figuras históricas na proteção de tela do celular para ser infectado pela influência da personalidade da pessoa e assim ter os mesmos resultados de sucesso, amor e prosperidade destas figuras, a menos que seja uma seita. Mas não é. O que me deixa terrivelmente constelado neste aspecto é justamente o uso destas crendices como algo terapêutico, psicológico, que vai ajudar a sua vida e resolver os seus problemas, sem fundamento nenhum na ciência e distorcendo a teoria que fala sobre este assunto. São pessoas que se aproveitam do desespero alheio em mudar de vida, em resolver suas angústias, apenas tiram proveito e não ajudam, se der errado ainda culpabilizam a pessoa, você que não soube imaginar direito, você que não está alinhado com os cosmos, você que não acreditou, e acabam deixando de lado todas as complexidades envolvidas em cada situação, desde pessoais, da história de vida, das experiências, da família, da comunidade, barreiras sociais e culturais, a possibilidade de continuidade e muito mais.


Temos sorte que o tema caiu na graça popular e virou meme, mas quantos eventos semelhantes observamos como estes de pessoas que aparecem com soluções milagrosas e rápidas para problemas de saúde mental que são históricos e de organização da estrutura social? Já foi dito que o maior problema e perigo da internet é dar voz para quem não tem cátedra para falar sobre determinado assunto, não tem conhecimento científico comprovado e testado, são imbecis sem formação nenhuma e com mais seguidores e visualizações do que cientistas, professores de história, nutricionistas e profissionais de saúde mental poluindo as redes com relatos pessoais ou pseudociência disfarçados de regras gerais e fórmulas mágicas. Nem todo mundo consegue separar o joio do trigo, e tudo bem se você quiser acreditar que passar o dia pensando na Cleópatra vai fazer você encontrar o amor, mas é preciso ser responsável, alguém pode perecer se acreditar nisto e perceber que não vai funcionar. 


Num dos livros mais introdutórios e de simples compreensão das Obras Completas de Carl Gustav Jung, Os Arquétipos e o Inconsciente Coletivo, logo no início, página 17, Jung nos dá a definição de arquétipo como tipos arcaicos ou primordiais de imagens universais que existiram desde os tempos mais remotos da vida humana e diz que o termo “representação coletiva” também pode ser usado para expressar estas figuras simbólicas da cosmovisão primitiva que se perpetuou por meio da repetição principalmente. Jung explica que é possível expressar estes conteúdos por meio das tradições, da religião, do mito e dos contos de fadas atualizados pelos rituais no decorrer do tempo, desta forma, o que se transmite são as fórmulas conscientes transformadas destes arquétipos ou suas imagens e este é o único contato que é possível ter com os arquétipos, por meio de suas imagens na consciência ou da análise de suas representações por meios indiretos. Outra maneira de contato com este conteúdo do inconsciente coletivo se dá por meio dos sonhos ou das visões, entretanto a consciência modifica este conteúdo assumindo as mais variadas formas de acordo com cada indivíduo e sua visão de mundo.


Simplificando ainda mais para que até a geração Z compreenda, os arquétipos, como o próprio nome nos informa do latim, são estruturas, arcabouços, arquiteturas ou contornos, são recipientes vazios que contem em si os modos de comportamento idênticos em todos os lugares do mundo e em todos os indivíduos, como teias, um pote vazio, uma marmita sem comida, um balde sem água, é só a forma e não o conteúdo. Spoiler, o conteúdo destes arquétipos, nós preenchemos com a nossa experiência pessoal, familiar e cultural a respeito daquela imagem, que é o que chamamos de complexos, ou os vários Eus que vivem em mim.


O arquétipo também é psicoide por ser totalidade, e é justamente por isto que não está em nós, mas no inconsciente coletivo, isto é, contem em si os opostos na mesma imagem, por exemplo, o arquétipo da mãe natureza pode ser sobre a criação do mundo, acolhimento e reprodução e também, ao mesmo tempo, destruição e morte, ora, furacão, maremoto e meteoro também é natureza, não apenas nutrição e a leve brisa do campo de lavanda. Faça o mesmo com o exemplo da Cleópatra, tão comentado. 


Como citei acima de Jung e em resumo, os arquétipos são as estruturas comportamentais que o ser humano vem repetindo desde que é humano e se expressa nas religiões, nos mitos, nos contos e nas crenças compartilhadas, isto significa que são infinitos, isto mesmo, estão além da nossa compreensão porque o veículo da consciência é o Ego e ele bem pequeno e contido no universo do inconsciente, assim, não são 12 os arquétipos, não tem número, existe um arquétipo para cada uma das situações típicas da vida, a capacidade organizadora do Ego não alcança algo maior que si para dizer quem e quantos são. E então vem a parte que interessa que Jung comentou em sua obra, no inconsciente coletivo, além dos arquétipos, estão lá também os instintos e sua “ativação” é sempre de forma involuntária e espontânea, mais ainda, quem aparece ou se “ativa” não são os arquétipos, mas suas imagens, ou seja, a leitura feita pela nossa psique destas estruturas, seus complexos.


Então vou lançar a campanha do contra, muitos arquétipos estão querendo ser ativados ultimamente, vamos desativá-los, ah não, a última pessoa que teve contato direto com um arquétipo, a amante de Zeus que pediu para vê-lo como ele é de fato, o arquétipo em sua totalidade, acabou sendo dizimada em milhões de partículas, porque o Ego não suporta ter contato com o arquétipo, por isto temos contato com suas imagens apenas, então chega desta assunto, vamos procurar fazer por onde, colocar o Ego para trabalhar, ter mais atitudes proativas ao invés de imaginar figuras de luz e nada mais, quer alguma coisa em sua vida, faça, vá atrás. Trabalhe, dê sentido a sua vida. Que então, quem sabe um dia você tenha de fato uma experiência arquetípica numinosa.

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