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  • Foto do escritorPsicólogo Renato Orlandi

Autocompaixão

Você já parou para observar como se trata? Como conversa com você mesmo? As coisas que diz para si mesmo e as coisas que pensa sobre você? Geralmente isto acontece no automático e também geralmente somos muito duros conosco, muitas vezes até cruéis, dizemos coisas que não seriam ditas nem para nosso pior inimigo. Quantas vezes você errou alguma conta de matemática ou esqueceu de alguma palavra, ou se sentiu envergonhada em alguma situação e logo pensou “ah, sua burra”, “como você é idiota”, “também, gorda deste jeito”, “mas é uma palhaça mesmo, ninguém gosta de você”, “por isto que está solteira”, e por aí vai.

Não percebemos que soltamos estas frases, estes pensamentos rápidos, no nosso cotidiano, mas eles vão destruindo pouco a pouco nossa confiança e autoestima, existem estudos que comprovam até que eles abalam a resiliência, ou seja, a capacidade de adaptação e flexibilidade a situações adversas. É tóxico, é nocivo, machuca sem que nós percebamos e vamos buscando formas de justificar e comprovar que estes pensamentos são reais com o que acreditamos serem sinais do mundo externo, é um mecanismo muito inteligente de subjugação por insegurança. Por exemplo, se eu estiver inseguro com relação a minha autoimagem, o peso do meu corpo, posso pensar, “ah, aqui nesta loja não tem roupa para uma baleia enorme, não para de comer né”, e quando alguém olha para mim o pensamento seguinte será, “está vendo, já estão perguntando o que a jamanta enorme está fazendo nesta loja”. E assim vai a bola de neve e o processo de autodestruição da autoestima, quando a primeira peça de roupa não servir será a comprovação de que tudo aquilo que foi pensando foi verdade.

De onde vem isto tudo? Neste exemplo, veio da insegurança, por conta de uma crença fundamental de desvalorização por ter um corpo diferente das pessoas, o indivíduo se diminui antes que as pessoas o façam para ter o controle de como será a subjugação, que ele imagina que pode acontecer, para que seja mais suportável e para que ele transmita a mensagem de que também concorda que está fora dos padrões e assim consiga pertencer ao grupo, sim, negando a si mesmo e ao seu corpo. É como se ele dissesse, “olha, meu corpo é horrível mesmo, eu concordo com você, pode me julgar porque é verdade, estamos do mesmo lado, então você pode me amar”. E quantas vezes fazemos isto para nos sentir pertencentes a um grupo? Quantas vezes falamos mal e nós mesmos e dos nossos corpos, decisões e objetos que compramos para que o outro nos aceite dentro de um padrão socialmente estabelecido, já chegamos nas reuniões com estes temas, “oi amiga, nossa eu estou tão gorda” e continuamos lesionando nossa autoestima, nos odiando por dentro e autorizando que se faça por fora.

O que fazer então? O mais importante, claro: terapia. Sim, precisamos aprender a identificar e reconhecer estes pensamentos porque eles são automáticos e quase sempre nem percebemos quando eles nos visitam, precisamos entender de onde eles vêm, quais são estas crenças mais profundas e regras que criamos, muitas vezes de desvalor, sobre pertencimento, sobre o valor da opinião popular e da necessidade de ajustamentos que assumimos, mas, principalmente precisamos nos questionar porque o amor do outro é mais importante do que o nosso próprio. Junto com isto, precisamos desenvolver a autocompaixão, isto é, criar um diálogo interno conosco de acolhimento e carinho, dizer para nós mesmos aquelas coisas boas de aceitação e de encorajamento que temos o costume de dizer para os nossos amigos ou familiares.

É aquilo de tratar a nós mesmos, por dentro, como gostaríamos de ser tratados por fora e como tratamos as pessoas de fora, Jung diz que só conseguimos oferecer aquilo que temos por dentro, então parece meio hipócrita tratar os outros tão bem e dizer coisas terríveis para si mesmo a todo momento, não é mesmo? Além do mais, eu amo a frase que diz assim: a forma como você se trata é a mesma forma que você ensina o outro a te tratar. Então, talvez aí está a base do trabalho que precisamos fazer para melhorar nossa autoestima.

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