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  • Foto do escritorPsicólogo Renato Orlandi

A sombra do intuitivo

A intuição, na psicologia junguiana, é uma das funções irracionais da consciência, didaticamente a colocamos num eixo oposto a sensação com o objetivo de explicar sua posição e seus contrapontos no que podemos chamar de cartografia da personalidade total. Esta função pode ter atitude introvertida ou extrovertida e pode ter como auxiliar as funções racionais do sentimento e do pensamento.

De modo geral, a manifestação extrovertida da intuição acontece pelo faro que estas pessoas têm com relação aos acontecimentos, quando dizemos “isto não me cheira bem”, situações não tem odores, então estamos falando de uma impressão de algo que ainda não se manifestou, entendemos a intuição como uma forma de captar algo que ainda não passou pela consciência. Então são pessoas que estão sempre à frente nas tendências, que buscam o novo, que começam coisas novas exageradamente e até se sentem sufocadas com rotinas e estabilidade. E na sua manifestação introvertida a pessoa fica bem voltada para o mundo interior, é o típico vidente, aquela pessoa que tem sonhos premonitórios e pode até ter dificuldades de comunicação e conexão com o mundo material. 

Quando falamos sobre a sombra de uma função psíquica não estamos falando exatamente do seu oposto, que é importante para levar ao equilíbrio, mas de uma manifestação exagerada, unilateral e, portanto, negativa desta parte da personalidade. Por exemplo, uma forma bem clara de sabermos que estamos lidando com uma parte sombria da intuição é quando nos deparamos com aquelas pessoas que só tem inferências negativas das situações, quando se tornam hipocondríacas, ou seja, ansiosas pelo futuro ruim que possa ter, podendo até desenvolver fobias ou comportamentos compulsivos para tentar evita-lo. Também são formas negativas a completa desconexão com o corpo e o meio físico, que pode aparecer tanto no esquecimento do cuidado consigo mesmo, quanto numa hipersensibilidade com o corpo porque não consegue regular a sensação, pode esquecer-se de compromissos ou negligenciar projetos.

Percebo outra forma de manifestação desta sombra do intuitivo que é a de dar grande sentido a tudo o que acontece, todas as pequenas coisas desde o amanhecer até o final da noite são sincronicidades e possuem grande significado para a vida e o futuro, qualquer passarinho cantando é um sinal divino ou uma resposta e tudo isto gera grande repercussão emocional para a pessoa. Sabemos que isto é mentira, a vida está mais para um caos em sua maior parte do que para a ordem, a maior parte das coisas que acontecem não tem sentido para a consciência, e ego é incapaz de absorver tudo sobre a vida, mas a insegurança de não saber é tão grande que, ao invés de me sentir perdido e sozinho no mundo, preferimos fingir um sentido maior para as coisas. 

Como separar um sinal, uma intuição de algo completamente aleatório da natureza? Seja honesto com o que você sente, a intuição é mais do que uma certeza, é irracional, mas roubando um pouco da definição de sincronicidade, causa modificação do ego, quando sabemos mesmo, passamos a ser outra pessoa. Ao contrário de sincronismo que é apenas uma coincidência sem relação. 

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