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  • Foto do escritorPsicólogo Renato Orlandi

A gente sempre avisa

As pessoas sempre avisam. Elas dizem com todas as letras, elas gritam, choram, todos os sinais são muito claros, sim, nós que não prestamos a devida atenção ou importância a angústia do outro, e não por perversão ou narcisismo, é só que cada um está tão mergulhado nas próprias dores que fica tão difícil olhar para o lado. Nos esquecemos do principal, que todos somos um, em momentos, tempos e corpos diferentes, mas o mesmo, a alma do mundo e da natureza, e quando uma pessoa se machuca todos sangramos.


Estamos todos com letreiros enormes brilhando contando das nossas dores, a gente avisa, falamos que estamos cansados, mas do quê mesmo? Da vida. Falamos que algo precisa ser diferente, das férias, dos finais de semana, daquele momento que vamos conseguir ser feliz. A gente avisa. São os maus humores da manhã, as tristezas da noite de domingo, as desconcentrações da tarde, tudo isto são advertências, alertas de que ela se aproxima, aquela que todos vamos encontrar um dia, que será o último.


Ninguém ou quase ninguém que tenha tirado a própria vida deixou de dar sinais. Alguns barulhentos e outros silenciosos, alguns dizendo ei olha, eu não aguento mais, e outros de apenas esvanecimento de presença. A gente sempre avisa. Estou cansado. Eu não aguento. Não sei como será o futuro. Não consigo continuar. Tarde demais para mudar. Não tem mais solução. Não tenho energia. A vida não vai melhorar. Nada mais importa. Eu preciso me despedir de todos. Eu quero dormir e não acordar mais. Eu quero que todos me esqueçam. Eu quero sumir. Eu não faria falta. Esta dor nunca vai passar.


E não ouvimos. Não precisa de muito para salvar uma vida, apenas ouvir. É isto, simplesmente olhar para o lado e ouvir. Estar presente, interessado e de braços abertos. Todo aviso é um pedido de ajuda, seja ele como for feito, precisamos valorizar e acolher. Não é brincadeirinha, não é típico da idade, não é uma fase. É um grito de desespero da alma! Neste nível. E precisamos dar a devida importância, afinal, o que será que pode acontecer a um semelhante, alguém como eu, que dói tão profundamente a ponto de se pensar em deixar de existir?


Uma tragédia como esta contagia quem está perto, no sentido existencial, já foi comprovado que todos ao redor desenvolverão transtornos depressivos, sem exceção. É uma violência muito grande, talvez a maior de todas que a comunidade pode promover, atinge a alma. Algo que ninguém quer, principalmente a vítima, uma coisa que pode ser evitada, completamente. Quando ouvimos o outro estamos também ouvindo nós mesmos, as partes que nos conectam. E neste momento as conexões valem ouro, então olhe para os lados e perceba quem está perto, contagie sua atmosfera de conforto e acolhimento, seja um porto seguro, uma pequena chama de luz na escuridão. Se alguém te pedir ajuda, ouça.

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