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  • Foto do escritorPsicólogo Renato Orlandi

A CPI do surto

Já sabemos que dentro de nós não existe apenas o Eu, mas vários Eus parciais e autônomos que chamamos de complexos e que o Ego é o gestor da consciência, é quem manda, ou ao menos tenta, mas que está longe de ser o único que nos influencia no dia-a-dia. Como Freud escreveu, não somos senhores nem de nós mesmo, porque não controlamos nem as coisas que acontecem na nossa mente, se referindo ao inconsciente, Jung complementa que não na consciência isto acontece porque somos bombardeados o dia todo por vontades e desejos dos outros que vivem em mim, ele nos orienta a abrir mão da ideia de monoteísmo do Ego, não tem apenas um Deus que manda em tudo, são vários que nos influenciam o tempo todo. 

Existem momentos em que os complexos dominam a sala de comando e agem por conta própria dentro da nossa mente, quando temos acessos de raiva, de descontrole ou de atitudes impulsivas, é fácil se lembrar de algum momento em que dizemos “nem parecia eu” ou “parecia estar possuído”, chamamos estes momentos carinhosamente de surtos. Inclusive já existem estudos e você testar em casa, quando estamos alterados, seja pela raiva ou pelo amor, nossa letra fica diferente, nosso modo de andar, o vocabulário que usamos, nos tornamos quase de fato outra pessoa, o quase é apenas para ajuste teórico, para reforçar são personalidades parciais, é neste ponto que este processo se diferencia da psicose. 

Uma das principais atitudes que podemos ter após o surto para prevenir que nossa psique se utilize novamente desta saída para ser ouvida é a abertura de uma CPI terapêutica na consciência. Claro que isto deverá ser feito após acolher a ferida exposta, recolher os cacos e remediar os feitos do surto ou ao menos perceber suas rupturas. É importante tentar identificar e conversar com estes Eus “insurgentes”, tentar entender o que estas partes suas tem para dizer, quais são suas queixas e como conseguiram tanto poder, ou energia psíquica, a ponto de tirarem o Ego do trono por alguns instantes e tomar frente ao controle das suas ações e palavras.

Assim será possível reintegrar estas partes ao todo, nas engrenagens da homeostasia psíquica, sem confusões, sem exageros e sem a necessidade de ações extremas por dentro para serem ouvidas e levadas em consideração com respeito e importância. Investigue-se, tenha interesse nas coisas que acontecem aí dentro da sua cabeça. A verdadeira vida não acontece fora da gente.

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