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  • Foto do escritorPsicólogo Renato Orlandi

2023 é o ano da esperança

Já retornei ao trabalho na semana passada e estou a todo vapor nesse trenzinho da saúde mental, afinal o Brasil não é para amadores e os eventos políticos recentes comprovam isto. Agora retomando também as atividades integrais e para escrever este primeiro texto do ano eu estava pensando sobre a vida e sobre a jornada que tenho seguido desde muito tempo, a aventura da minha vida, das decisões que tomei, das coisas que consegui fazer por mim e dos sonhos que consegui realizar. Percebi que foram as minhas primeiras férias em 9 anos a semaninha que fiquei de molho agora no final do ano, mas já contou muito, ajudou a colocar a vida em perspectiva, a sair da caixinha que nos prendemos de limitar a vida ao trabalho, as rotinas e ao pensamento operacional. Precisamos sair da vida do checklist, parar de ser cumpridores de tarefas, metas e objetivos, há que se comtemplar a vida e só fazemos isto parando para meditar, só fazemos isto no ócio, desocupados.

Olhei para alguns acontecimentos de final de ano da minha carreira anterior na rede social dos currículos, as festas de fim de ano das empresas e os plantões solitários longe da família, uma vida que passava apenas e nada dela ficava, o tempo não marcava, as horas, se era dia ou noite, feriado ou letivo, não haviam transições, ciclos, inícios e finais, os acontecimentos corriam um atrás do outro sem fim… Fiquei arrepiado, quanta coragem tive no passado e quanta luta eu enfrentei para fazer a minha transição de carreira, mesmo com pouca força, porque já estava adoecido da alma, desanimado e deprimido. Que bom que eu coloquei esta meta na minha vida e a persegui, hoje, aqui do futuro daquele menino este é o meu presente para mim mesmo, só tenho a agradecer por toda a determinação e esperança que tive. E, por isto, continuo tendo.

Não foi fácil e nem agradável, antes decidir e tomar a coragem para fazer, contar para as pessoas que eu precisava sair daquela profissão e recomeçar do zero em outra (depois de velho), onde sentia o chamado, e temos vários chamados, o passado não haveria de ter sido banal, mas de repente já se cumprira o destino daquela vida! Agora eu precisava de outra vida diferente para o meu coração bater novamente e como é comum os problemas cardíacos na população por não ouvir o coração, não é mesmo? Com certeza, eu não estaria vivo hoje se não tivesse feito esta mudança na minha vida, se não tivesse feito transição de carreira. Olho para trás e percebo como está fluindo bem, com os altos e baixos da profissão, com a sazonalidade característica, enfrentando as ondas das demandas coletivas que ainda são novidades e que a faculdade não nos prepara, passando alguns apertos muito específicos da clínica e do trabalho autônomo que é tão difícil neste país, mas com muitas alegrias e realizações, muitas conexões de alma, muito aprendizado e as trocas que fiz com pessoas maravilhosas em busca de evolução, desenvolvimento ou só mesmo adequação a este mundo.

Fiz um levantamento por cima e percebi que realizei 1827 sessões de psicoterapia até 2022 na minha vida, sem contar as sessões do projeto de extensão que participei e as sessões do período em que trabalhei no SUS, além das sessões de supervisão individuais e em grupo. Colocando uma média de 50 minutos cada uma destas sessões, foram 1523 horas de psicoterapia, é claro que tiveram sessões de mais de 2 horas ininterruptas, tiveram acompanhamentos terapêuticos de um dia inteiro e também tiveram sessões de meia hora tão intensas que não dava para ficar mais sem uma pausa de reflexão. Você pode pensar que é pouco, afinal um ano letivo de 200 dias de alguém que trabalha 6 horas por dia daria uma carga horária de 1200 horas, entretanto sabemos que a terapia não acontece somente nos minutos dentro do consultório, tiveram também os gerenciamentos de crises, conversas e encontros fora da salinha, com familiares e chefes, sem contar todo o trabalho administrativo e técnico, os documentos produzidos, as conversas com outros profissionais, os relatórios, as supervisões, discussões e o estudo dos casos, as leituras e apresentações. Acrescento também todo o tempo vago em que pensei nas pessoas que atendi, nas viagens de ônibus sempre epifânicas, nos insights que tive antes de dormir, no cinema, no parque, assistindo séries, lembrando das histórias e fazendo conexões para levar para as sessões e ampliar. 

É um trabalho de período integral, não dá para falar para o meu cérebro desligar, ele faz associações a sua própria vontade e quando eu menos espero me lembro de alguém, me vez uma luz e um pensamento que irá contribuir para o processo de desenvolvimento daquela pessoa. Exige envolvimento pessoal, profundo, de alma, de amor, não é um tipo de trabalho que quando acaba o horário se bate o cartão e vai embora, não tem como ir embora de alguém dentro de nós e da gente dentro do outro e é nesta mistura que acontece a transformação, não tem outro jeito. 

Tem psicólogos que tentam se livrar disto, existem abordagens mais “higiênicas” de envolvimento, mais processuais e distantes, estas não vão longe até a alma. Então, eu não apenas atendi 1523 horas, eu vivi, chorei e ri, me deixei atravessar pelas angústias e pelos sonhos das pessoas por todo este tempo, haja supervisão e terapia para suportar tudo isto, nem sempre suportei tão bem, mas permaneci firme e resiliente em cada passo, tropeçando, claudicando algumas vezes, mas sempre acreditando. E principalmente, feliz!

Está é a mensagem que eu quero trazer, continue acreditando, se precisar parar, tudo bem, se precisar dar um passo para trás, tudo bem, se precisar diminuir a velocidade, tudo bem, mas vamos manter a esperança. Vamos tomar como lema de 2023 a famosa frase de Júlio César, escrita para o Senado Romano em 47 a.C: “veni, vidi, vici”, “vim, vi e venci”.

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